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O velho, o surdo e o doente

   Uma questão cada vez mais escancarada no dia a dia, devido aos descaminhos da economia e toda desventura que assola esta nação, onde a desigualdade tem sua marca maior, é da mendicância. Em todos lugares temos pessoas pedintes , que trazem consigo uma gama de conflitos, desgostos e muita dificuldade social, quer seja pelo individuo que não tem recursos e não sabe como conseguir; quer seja pelo vínculo que este mantém com o meio social e isso gera uma situação, no mínimo desconfortante.

   Claro, pese o fato, de que pedir é melhor do que roubar, é certo, mas sabemos que virou "um comércio", pois verificamos personagens bem emblemáticos se detivermos um olhar maus atento nos pontos estratégicos, próximos a  mercados, feiras livres e locais de maior de circulação de pessoas. Aqui, na minha cidade,como em todas as outras, não poderia ser diferente, e só para exemplificar vou elencar três personagens dessa situação, e reforço, aqui não estou para "atirar pedras" e nem expor o cidadão ao ridículo, mas apenas expondo algo observável e que não tem , pelo que eu saiba, nenhuma lei que proiba isso, mesmo porque seria antihumanitário e imoral, mas pessoas desvirtuam a questão social de forma bem descarada. Vamos aos exemplos:

   O velho, este senhor que aparenta ter em torno de 68 a 75 anos, pelo que vemos de sua cabeleireira branca, seu andar mais vagaroso e seu jeito de se vestir, mais sóbrio, com calça social, camisa social e sapato, sempre no mesmo estilo. Bom, este senhor aborda as pessoas na rodoviária local e nos comércios adjacentes, e tem a seguinte narrativa: Tem dificuldades em casa, pois não conseguiu dar entrada na aposentaria por idade antes da Reforma da previdência, e tem pouco registro em carteira, desta forma, passa por necessidades, o que é verdadeiro, no atual contexto. E, sendo assim, ele pede ajuda para manter a casa, comprar mantimentos e também remédio de pressão que não é fornecido na rede pública (SIC). Ele virou uma figura conhecida, eu mesma já fui abordada, ajudei, depois de um tempo novamente, ajudei de novo com algumas moedas, e na terceira vez, eu perguntei para ele por que ele não vai até a a Assistência Social do município e faz um cadastro, devido a situação precária que ele descreve consegue ajuda, ele simplesmente virou as costas e foi para outro local abordar outra pessoa. Desisti. Vi que o senhor em questão, não está nessa necessidade que descreve, pois todas em todas as cidades a Secretaria de Assistência Social mantém um staff que cuida dessas situações de risco social. Aqui, tem sido feito um trabalho de orientação, cadastro em programas sociais e até acolhimento, portanto, entendi que a questão do velho é outra.

    O surdo, este homem, na faixa dos seus 35 a 40 anos, anda pelo mesmo local de grande fluxo de pessoas, rodoviária e feira livre, com uma prancheta nas mãos, e nesta uma papeleta anexada onde se lê:

" Sou surdo mudo desde a infãncia, preciso de ajuda para me manter pois não tenho ajuda e nem emprego, devido a minha deficiência". 

Bom, claro, também comove e ajudei várias vezes, confesso, uma pessoa de  coração mole, mas eis que um dia, eu estava atravessando a avenida, e este homem, surdo mudo, na minha frente, e no sentido contrário um homem o cumprimentou, ele respondeu. Tinha voz e ainda falou alguma coisa que não compreendi direito devido ao barulho dos carros, e fiquei pasma. Depois do outro lado da avenida fiquei observando ele seguir para um estacionamento bem na esquina de onde fica pedindo ajuda, entrou e eu fiquei intimidada de confrontar o cidadão, deixei passar batido. Depois desse episódio, fui novamente abordada por ele com a prancheta em mãos, fiz sinal negativo, mas nada questionei. E sem contar um detalhe grave no caso dele, este carece de gentileza e educação, pois na hora que ele aponta a prancheta com a folha onde descreve sua mendicância, ele força a barra, não é educado, quando a pessoa faz sinal que não quer, se for mulher ou jovem, ele insiste e empurra a prancheta para a pessoa ler e fica mal humorado com a negativa. Triste demais ser assim.

   O doente, este senhor, também por volta dos quarenta e poucos anos, é outro "trabalhador" desta área, e sempre na porta de mercados, feira livres e locais de algomeração, diz ele não poder trabalhar por estar doente, padece de desvirticulite, problemas renais e anemia, o que parece mesmo,pois é bem magrinho e franzino, mas também tem algo que o deixa em situação melindrosa; uma conhecida minha, quando me referi a este senhor, ela disse que é da mesma rua dela, e ele tem familia, e todos em casa trabalham e ele tem vicios de cigarro e bebida, por isso, nunca parou em emprego.Eu confesso, nas vezes que o vi, não vi ele com nenhum cigarro, mas sobre a bebida não sei não, mas tem algo que depõe contra ele, ainda que, sua atitude de mentir e enganar para ganhar "uns trocados" não seja o mal maior do país, mesmo assim, caiu no meu descrédito.

Para finalizar, não quero aqui ser uma pessoa sem sensiblidade com o outro em estado de carência e dificuldades, mas sabemos bem, estamos no Brasil, e o brasileiro  tem uma índole um tanto duvidosa, claro nem todos, mas muitos casos são escancarados de mentiras, adulações e farsas sempre ansiando o bem proprio em detrimento de outros. 

Os pedintes merecem serem olhados com atenção e cuidado devido a situação de vulnerabilidade, e nós, cidadãos que ainda podemos nos manter fora dessa situação, devemos sempre que possivel auxiliar e orientar no que pudermos, mesmo que seja com um conselho ou indicação de endereço da Assistência social ou templo religioso onde o mesmo pode encontrar um certo acolhimento e ajuda. Assim seja!


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