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O idoso






Idade avança e quando ela chega traz alguns desconfortos, males e temores. Nem todos seguem o mesmo rito de uma velhice abençoada e com vitalidade, alguns ficam rancorosos, saudosos e queixosos, lamentavelmente,mas aqui vou citar um idoso que não se enquadra nesta visão da velhice mal amada e de queixumes.

Eufrásio era um senhor idoso, já com seus 90 anos bem vividos. Com uma família formada lá no sul do Mato Grosso, era ele um senhor que tinha histórias para contar. Filhos, 6. Netos, 8. Bisnetos, 3. Enviuvou aos 78 anos e casou-se com Maria das Graças,uma viúva da mesma região onde este residia. Eufrásio vivia bem com sua idade avançada. Morava numa casa branca, com telhado rústico,um pequena varanda que dava vistas para um quintal de chão de terra batida, onde quatro cachorros vira latas circulavam e se via um tanque de água ali no quintal, onde havia uma pequena criação de peixes típicos da região. Nos fundos da casa, um varal para estender as roupas, com um acesso por caminho de terra, por onde se chegava ao galinheiro. Criação que Eufrásio muito estimava. Seus peixes, galinhas e cachorros. No entorno da casa, havia uma plantação de hortaliças que sempre foi o xodó do senhor Eufrásio, onde ele cultivava em tempos idos, tomates, alface, couve e pimenta, agora já com idade avançada, tentava manter a plantação ainda vigorosa, com regas diárias e limpeza das ervas daninhas,  o que sempre o deixava muito contente em ver o resultado de sua energia e dedicação

Assim, vivia num lugar afastado da cidade grande, nos confins do Mato Grosso, Eufrásio e Maria das Graças, ele quando recebia visita dos filhos e netos - alguns moravam perto, se esbaldava em contar suas histórias, e quando não tinha com quem falar, deixava esposa em casa, e caminhava pela região, em seus passos lentos, cabelos brancos pela ação inexorável do tempo; olhar arguto que parecia que esmicuçava o mundo, andava pela propriedade, sentava num local com vista para o rio que cortava várias fazendas e ali revivia cenas de sua vida, não com amargor ou frustração, mas com a certeza de ter feito o que pode e como pode. Fervoroso em sua crença em Deus, jamais desistia de acreditar na providência divina, e sabe que foi isto que o levou tão longe ainda com lucidez e sáude, claro sem contar alguns males da idade, como um reumatismo que o deixava meio dolorido nos dias frios e uma lombalgia que, por vezes, o deixava inquieto, fora isso, ele se mantinha ativo na sua caminhada, adorava contemplar a alvorada no seu rincão, com pássaros cantantes e também não abria mão de uma dose de conhaque  e o feijão tropeiro bem temperado. Assim, vivia o idoso os seus dias, abençoados e grato.

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