O fazedor de chuva

Ele era um homem simples. Nada de especial havia em sua figura magra, queimada do sol do agreste, pés grandes e mãos de gigante. Apesar de aparentar ser uma pessoa grosseira, era calmo, plácido, calado. Vivia nas redondezas do Barranco da Coruja, no meio do sertão. Era homem sisudo e de família, pouco saia do povoado e sem instrução, não restou a ele, trabalhar no solo seco e tentar assim ganhar a vida e o sustento para os sete filhos que vieram de seu casamento, por simples, esgotamento da solidão em que vivia. João, era este seu nome, um homem simples e bom, sem mais predicados que o diferenciassem naquele região, a não um fato inusitado que fez com que ele fosse sempre lembrado por algo que não sabia ao certo ser dom, sorte ou "acordo" com o outro lado, enfim, João fazia chover.


O simplório João, homem do campo, rude e sem instrução, uma vez cansado de capinar o solo seco, em vendo que sua família precisava do sustento que sairia dali, se desesperou e debaixo de um sol forte e inclemente, se pôs de joelhos e começou a implorar a Deus, uma benção; uma chuva que caísse e regasse a terra rachada. Chorou, orou, implorou....se encostou num pé de mandacaru, e adormeceu, um sono pesado, cheio de imagens escuras, barulhos e um redemoinho que parecia que o engolia...acordou assustado, e viu que o céu estava nublado. Havia nuvens maculando o azul que antes cobria aquelas paragens.. Ficou assustado, a princípio, só podia ser milagre; nuvens pesadas se amontoavam, depois escureceu, um trovão ao longe se ouviu, e a chuva começou a cair. João, não se conteve de felicidade, saiu cantarolando embaixo  da chuva que apaziguava o calor e amenizava a secura da terra. Chegou em casa todo molhado e eufórico, e viu a alegria no rosto cansado de sua mulher que logo correram para pegar bacias e baldes e aproveitar a água que caía. João embasbacado, olhava a paisagem onde nuvens cobriam a vastidão do sertão com cargas d'agua.

Depois desse episódio, o boato logo se espalhou e João ficou conhecido como o homem que fazia chover. Calmo, manso, sem praguejar ele era tido como um enviado, um ser que tinha ligação com o divino, pois este ouvia suas orações. Quando passava um tempo sem chuvas, João era convocado e fazia a pose de mensageiro do céu, sentado, sob o sol causticante, orava, jejuava, pedia, clamava e depois de horas ou um dia, mais tardar, a chuva vinha, fraca ou não, mas chovia. Teve uma vez que João passou três dias numa plantação seca, tentando chamar a chuva, e orava e clamava e pedia que Deus se apiedasse daquela gente sofrida, e nesse tempo, João era tido como um homem puro e pelo habitantes estimado. Suas preces e apelos não falhavam , sempre chovia. João passou parte da sua vida nessa região, não era homem de soberba ou de ambição, a ele bastava ter seu quintal e plantação de onde tirava  seu pão e mantinha a família; prezava os amigos e compadres da vizinhança, por isso, nunca saiu de lá, e até hoje é conhecido no local como o fazedor de chuva.




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