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...E foi assim

O ano era 2000 e Paula estava empolgada com a chegada do fim de ano e também o final de curso de graduação; cursava hotelaria e já fazia planos para o futuro. Ela trabalhava em uma pequena agência de viagens, mas já objetivos de viagens e com isso ganhar experiências e adquirir conhecimentos de outras culturas para melhor desenvolver suas habilidades nos ramos do turismo.

Ela, moça bonita, com cabelos castanhos, encaracolados, olhos castanhos esverdeados, sorriso fácil e cativante, num rosto charmoso, onde algumas sardas davam aquele aspecto maroto e dengoso no auge dos seus 23 anos, namorava, mas nada que a fizesse marcar compromisso de casar, somente, alguns namoros, com rapazes, que lhe faziam companhia em noites de sábado, em casa, ou em alguns passeios, no mais, estava com seu coração livre. Descompromissada. 

O ano findou, houve as comemorações costumeiras, e em janeiro do ano seguinte houve a formatura da turma de Paula. Muito agradecida e feliz, depois de todos os eventos formais, viajou para o Chile, pois já tinha planejado anteriormente a viagem, e foi sozinha. 
Lá se encontrou com um grupo de brasileiros, com o qual já tinha feito contatos anteriores, e com eles, foi curtir a região, com suas montanhas; a beleza da paisagem local, a gastronomia e curtiu bastante o que tinha de turismo por lá.  Depois de duas semanas, era hora de voltar e arregaçar as mangas para fazer valer seu sonho de viagens e dar impulso na sua carreira. Foi no avião, que conheceu Murilo. Sentaram lado a lado. Ele, um rapaz, que aparentava cerca de 26 anos, não mais, usava óculos, trajava roupas de cores básicas, dando mais sobriedade ao visual bem-comportado. Era um pouco mais alto do Paula, e percebia-se que tinha um porte atlético, deveria ser adepto de academia ou pelo menos cuidava bem do corpo. Ao sentar-se ao lado de Paula, iniciou, timidamente, um diáogo.
 

- Olá! Com licença. - Ele falou olhando-a com admiração. 

 Paula, se atentou para o fato de uma pessoa estar ao seu lado, e sorriu, de modo agradabilíssimo. 

-  Oi. Pois não. - Olhou para o rapaz que se ajeitava na poltrona ao seu lado. - Era um rapaz tímido, mas que chamava a atenção. 

O voo transcorria sem percalços, e durante o trajeto trocaram algumas palavras, ficou ela sabendo que ele estava na casa de um amigo em Santiago, tinha ido passar férias, e agora retornava para São Paulo, onde trabalhava em uma financeira na Av. Paulista. Era consultor financeiro, isto talvez explicaria os óculos, ou não. Paulo falou de si, de sua vontade de trabalhar na área escolhida e fez algumas menções a lugares que gostaria de conhecer, ela se empolgou e vieram conversando e até trocaram telefone e assim manteriam contato. E assim foi. 

Passado algum tempo, Paula recebeu uma mensagem em seu celular, e vinha com votos de Boa tarde e um olá, bem discreto. Era Murilo. Ela respondeu, de forma simpática e foram trocando informações acerca do trabalho de ambos, vida social, algumas sugestões musicais, que depois viram ter um gosto semelhante, e assim quando se aperceberam estavam conectados, e todos os dias, se falavam; ele falava de sua tarefa bem espinhosa, mas gratificante de lidar com números, pois ele gostava; ela ,por sua vez, falava a ele sobre os planos futuros, e de como estava conseguindo contatos e já tinha entrevista marcada em um resort em Salvador, apesar de ser outro estado, para ela contava a novidade e a oportunidade de aprender na prática como lidar com o fluxo de um hotel ou resort e toda gama de situações envolvendo clientes, funcionários, fornecedores e tudo mais. 

Um dia, resolveram marcar de se encontrar pessoalmente, afinal moravam em São Paulo, mesmo em localidades quase opostas, era fácil. Ele da zona norte, ela da zona leste, se encontraram num barzinho nas redondezas do trabalho dela. Conversavam bastante e Paula, viu que Murilo era muito inteligente e prestativo, e se sentia bem na companhia dele. Murilo, em sua timidez, conseguia conversar e falar de si para Paula, no que ela ficou sabendo que ele já havia sido noivo, e depois de algumas desavenças, decidiram terminar o noivado, o que levou se aprofundar mais e mais nas finanças. Sabia que tinha futuro no ramo.  

Os anos se passaram, e Paula e Murilo mantiveram uma amizade bonita, ele oferecia conforto a Paula, no que tange falar de assuntos pessoais, não havia no tom ou no modo como ele olhava julgamentos, ele ouvia o que Paula lhe falava, se alegrava com fotos que ela lhe enviava, de lugares por onde viajava, curtia as fotos em redes sociais, que ela postava; recebia de bom grado as mensagens dela, e ela, de forma simpática e reciproca, também era acolhedora aos chamados telefônicos dele, algumas fotos que ele enviava, ela curtia e por vezes davam muitas risadas, comentando gafes, bobeiras e também se ressentiam quando um deles não estava  num bom momento, afinal nem tudo são flores e a vida não é um conto de fadas, e as concisas davam esse suporte ambos. Uma vez, Murilo até ouviu o choro de Paula, a falar de uma discussão com um namorado que ela tinha arrumado, ele havia sido grosseiro com ela nas academias e discutiram na frente dos frequentadores, ela depois em casa, ficou relembrando da grosseria e ao falar com Murilo, acabou caindo em prantos, não pelo gostar do sujeito grosseiro, mas pela situação desconfortável, num ambiente onde havia outras pessoas observando. Murilo ouviu atentamente e com extrema delicadeza a aconselhou a seguir e não remoer os fatos, pois ela era tão ativa e alegre, que um fato desse não deveria marcar seu dia, quiçá murchar seu entusiasmo. E assim foi. 

Um dia, quando eles conversavam numa cafeteria, Murilo, olhava fixamente para  aquele rosto sardento e belo. Paula o flagrou nesses momenta, e um tanto desconcertada perguntou o que havia. 

-- Nada, nada...mas vejo você e sei que temos muito em comum, e... - Interrompeu a fala. Ficou sem jeito. 

Paula sabia o que ele iria dizer, pois depois um tempo de interação e conversas trocadas, ela sentia o mesmo. Essa afinidade, essa sintonia, o que seria...

Ele pegou a mão de Paula e afagou. Tantas outras vezes tinham e tocado, se abarcado, e torçado beijos ternos na face, mas aquele momento algo desabrochara em Paula. 

- Murilo...- ficou sem palavras-, eu acho que a gente, sei lá, estranho, isso. A gente nunca falou sobre nós dois como um casal, mas te vejo da mesma forma. 

No olhar dela a inquietação. No semblante dele a sugestão. 

Ali, naquele contexto, não precisava palavras, eles sentiam a perfeita sintonia entre ambos, com um chamado.  

O ano era 2016, e Paula e Murilo estavam casados. Tinham tido três filhos e Murilo era diretor financeiro da empresa, onde trabalhava desde a formatura. Paula havia conseguido emprego de gerente em um Hotel em São Paulo, depois de passar por Salvador e RJ, e ambos moravam num belo apartamento na Vila Mariana, SP, onde viviam confortavelmente e em harmonia, claro, sempre com algumas rusgas, o que é comum, na vida a dois, mas estavam felizes. 

Não houve borboletas no estômago. Se foi amor à primeira vista, ambos se fizeram de cegos; não sentiram os arroubos da paixão galvanizante, mas se amavam e tinham tudo o que lhes preenchia. E foi assim.

 

 

 

 

 


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