Uma tarde dessas, diga-se de passagem, fria e típica de inverno, fui ao cemitério, levar flores e saudar a em oração a alma de minha mãe. Ao chegar ao local me deparei com um enterro que já estava sendo finalizado, com pessoas da família do falecido, lamentando a partida, lágrimas e tristeza fluíam no ar tal qual a sensação fria e o vento cortante que ali se manisfestava. Não sei quem é a pessoa falecida, e por respeito aos familiares, acenei e fiz uma oração em silêncio pela pessoa.
Visitei a sepultura de minha mãe e fiz o que tinha em mente, fiz a limpeza do local, acendi uma vela, fiz a oração, e depois olhei ao redor, me vi só no local, todos haviam ido embora, os familiares que estavam comovidos e chorosos, os coveiros e até o vigia do local, me vi sozinha no local, com sepulturas abertas, esperando vitimas desta pandemia, outras ainda sendo cavadas, e assim, fui dar uma olhada em outras. Vi pessoas jovens que partiram deste mundo, neste mês que finda. Mulheres de 45 anos, homens de 39 á 50 anos, rapazes e moças, a causa mortis, não sei dizer, claro que nem todos eram vitimas de Covid 19, mas o ambiente ficou tão carregado, me veio à mente as pessoas sendo vitimadas por um vírus e pela ganância humana, onde muito se ganha em cima da morte das pessoas. Confesso, me senti triste e desalentada. Retornei à sepultura de minha mãe, e me despedi em silêncio. Saí de lá consternada com as vitimas em tão pouco tempo, pessoas que ainda tinham tanto pela frente.e tiveram suas vidas interrompidas, quer seja por um vírus letal, quer seja por outra doença ou comorbidade, ou mesmo algum acidente, que tenha posto fim a vidas que ainda tinham muito a fazer e criar.
Como eu tinha compromisso médico, fui ao hospital realizar meu exame de imagem, já agendado. Chegando lá, depois dos trâmites habituais de preenchimento de ficha e aguardar chamada, fiquei no saguão, e pude presenciar um momento de glória. Pessoas que estavam internadas com sintomas do Covid 19, estavam sendo liberadas para retornarem aos seus lares, com a plaquinha, já bem familiar do "Eu venci o Covid". Que maravilha foi expectar essa situação, eram idosos e alguns de meia idade, um grupo de cerca de 8 pessoas, e com a animação da equipe de enfermagem, todos estavam alegres e davam sorrisos de satisfação, afinal, ser internado é algo muito ruim, e ainda mais nesse caso, e ao ter alta médica, tudo fica mais gratificante e leve. Claro que aderi ao pessoal do saguão e me saudei os mesmos, na salva de palmas que sucedeu quando os mesmos saíram, os felicitando pela Vida. Uma guerra contra o vírus e uma vitória!!!
Depois desse episódio fiz meu exame, e pela graça de Deus está tudo certo e nos conformes. Saí de lá sem aquela sensação de desalento que trouxe comigo lá do cemitério, pois tinha visto a alegria das pessoas curadas e retornando aos seu lares.
Tive a experiência triste e desoladora de ver pessoas chorando, lastimando a partida de uma pessoa da família; vi nomes e datas que me deixaram muito sentida, e para dar aquela virada, essa motivação e reverência pela Vida.
Numa tarde típica de inverno, fria e cinzenta saudei os mortos em oração, e reverenciei a vida com palmas!
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