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Diário de bordo


Vinte e três de Agosto de dois mil e dezenove.

Sexta-feira fria aqui e cinzenta, clima invernal, típico desta cidade com aspectos naturais ressaltados em seu brasão, hino e imagem turística.
Semana mais calma, depois de um início de mês tumultuado e cheio de aflição. Falo de assuntos familiares e não politico/sociais, pois nesta seara continua o mesmo "balaio de gatos" com tantas declarações e citações do governo que constrangem até a Vênus de Milo. Voltando ao assunto pessoal, tive uma perda neste mês que foi dolorosa e causou impacto na vida familiar. Depois de anos acamada e sofrendo os reveses de um AVC, minha mãe chegou ao fim de sua vida de modo traumático e de agonia. Não, não foi um passamento leve e suave, como aqueles em que muitos sonham, dormir e não mais acordar, no caso dela houve sofrimento físico constante nos 8 dias de internação, devido a erros, desacordos e trocas infrutíferas de medicamentos para que aliviassem sua dor e agonia. Culpo alguém, sim, culpo a todos nós, familiares e equipe médica e de enfermagem que em vez de aliviar a angústia de um ser, prolongou o seu sofrer... o que fazer, nada, fomos passivos assistindo troca de medicamentos e terapêuticas para curar o mal que não tinha cura...melhor seria, deixar serenamente expirar.

O desconforto hospitalar é por demais angustiante para pessoas já debilitadas e se estas já se encontram em vias de estágio terminal, deveria haver um cuidado maior e algo paliativo para aliviar este momento,mas na prática o que se vê não é o que está na Normativa da Organização Mundial de Saúde com pacientes paliativos ou sem chances de melhora, há sim, um termo escrito pra isto,mas nos hospitais, não é aplicado com rigor, apenas, nos prontuário, consta atenção e nada mais além disto.

Enfim, a vida expirou com sofrer, nunca desejamos isto, queremos e digo por mim, e por todos os membros da minha família, queremos um passamento mais brando, porém nosso querer não é imperativo, há aqueles que creem que há uma "culpa" do paciente para este depurar antes de partir;outros, amigos nossos, espiritualistas, dizem ser parte de um "carma", que a alma precisa passar e para numa outra vida, não ter este sofrer....quem saberá ao certo, não sabemos. Aceitamos, agora a situação, pois foi caótica esta transição, e tudo mais que se passa no ambiente hospitalar com tantas angústias e expectativas que não são trabalhadas e nem  elaboradas. Fica a indignação, mas depois de uma semana, vamos aceitando e crendo que agora houve de fato, um descanso, uma paz que a pessoa nunca teve em vida, finalmente encontrou.

O tema é por demais cansativo e tristonho e somente agora posso escrever sobre este, espero que assim possamos agora seguir, mesmo sendo , nós familiares, expectadores da tragédia humana, legalizada e didática, em termos de ensino médico-hospitalar.

No restante, alguns entraves burocráticos, e empecilhos de relacionamentos entre membros familiares vai ditando o tom da vida. Seguimos assim, no nosso embate cotidiano, agradecendo ao dia cinzento, que vejo, ao frio que sinto, a tela com letras dispersas que agora escrevo, aos amigos que pude contatar nas horas de angústia, ao ser divino que me faz ainda na Vida acreditar.

Vamos seguindo e assim interagindo, vou aos poucos reconstruindo outro cenário, crio rimas bobas, aqui e ali,para fazer graça; fui agraciada com uma classificação de um poema meu em uma Oficina Poética, e nas graças do viver vamos aqui e ali, agregando sinais, significados ao que uma caminhada que precisamos fecundar com bons valores e atos de bondade. Não sou um santa, claro que não, mas vou aprendendo a melhorar e incorporar o que há de bom no amigo que me estendeu a mão, no irmão meu, que ainda sente a partida sofrida,, com meu velho pai, que no alto de sua sabedoria, mesmo sem cultura, crê num significado e dá valor ao momento que passamos.

Mês de Agosto ainda não findou, mas houve términos que ficarão aqui gravados e serão lembrados, um dia ou outro, de forma amena e mais serena.

Fim da transcrição.


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