O Cômodo

  Naquele aposento, a penumbra mapeia os cantos, e se vê um amontoado de coisas  e papéis. As paredes de um azul quase neutro, descascando com o tempo dá o aspecto de abandono. Cinzeiro sujo; garrafas vazias, numa tarde quente e vagarosa, um ventilador, não ventila. O ar  cheira a vermute e cigarro. Naquele local, uma cama mal arrumada, um par de sapatos muito usado no tapetinho de linho puído.  Na cama uma mala antiga e  desgastada, roupas jogadas com desdém sobre a cama. Alguém estava com pressa ou perdeu a pressa...O aspecto não é bom, seria um refúgio, um cativeiro? Um espelho na parede já manchado,  só traz a imagem do vazio. O guarda - roupas está com uma porta quebrada, mas amarrado com barbante, dentro dele, poucas peças e de gosto duvidoso. Na janela uma cortina verde esvoaça como a dizer que a vida ainda cisma em ali se manter. No silêncio do aposento, somente a respiração é ouvida.

  O cenário não agrada, projetamos no ambiente o desleixo, o desmazelo, o mal querer. Ali algo contamina e também inspira, como uma tela vista de cima, o cenário é menos letal. No olhar do observador o incômodo é subjetivo, para uns retroalimenta a degeneração humana; para outros a impressão destaca a vida martirizada e desventurosa , podendo ser carente e digno de piedade, e também  pode ser perturbador e agressivo. O olhar captura o cenário e a mente faz ilações e projeta, mas não explica e ainda deixa a dúvida. O cômodo continua enigmático e intacto.






Deus é bom sempre! 🙏



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