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Vamos de Poesia (Série Poética)

 Natal… Natais…

Tu, grande Ser,
Voltas pequeno ao mundo.
Não deixas nunca de nascer!
Com braços, pernas, mãos, olhos, semblante,
Voz de menino.
Humano o corpo e o coração divino.

Natal… Natais…
Tantos vieram e se foram!
Quantos ainda verei mais?

Em cada estrela sempre pomos a esperança
De que ela seja a mensageira,
E a sua chama azul encha de luz a terra inteira.
Em cada vela acesa, em cada casa, pressentimos
Como um anúncio de alvorada;
E ein cada árvore da estrada
Um ramo de oliveira;
E em cada gruta o abrigo da criança omnipotente;

E no fragor do vento falas de anjos, e no vácuo
De silêncio da noite
Estriada de súbitos clarões,
A presença de Alguém cuja forma é precária
E a sua essência, eterna.
Natal… Natais…
Tantos vieram e se foram!
Quantos ainda verei mais?




– Cabral do Nascimento, em ‘Cancioneiro’.



João Cabral do Nascimento nasceu (Rua do Carmo, Funchal22 de março de 1897 - Campo GrandeLisboa2 de março de 1978) foi escritorprofessor e colaborador de revistas como Cadernos de PoesiaLitoralTávola RedondaTempo Presente, entre outras. Segundo David Mourão-Ferreira"ninguém representava, como Cabral do Nascimento, o lirismo na sua forma mais pura, decantada, mais liberta de todos os compromissos e de todos os hibrismos" [1].

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