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Maya


Anoiteceu, estava quente e abafado. Maya resolveu sair para a varanda e apreciar a noite.  A lua prateada enfeitava o céu tal qual uma esfera pintada por uma criança, na sua ingênua concepção de cor e tamanho.

Maya se recostou na pilastra e ficou admirar a noite e relembrar seus tempos naquela fazenda. Criança travessa, juntamente com os dois irmãos e dois moradores do local, brincavam muito ali no terreiro, correndo um atrás do outro, fazendo joça dos menores e ouvindo os avós contando histórias. Ela se lembra bem da avó contando histórias assutadoras de um ser estranho que vinha nas noites iluminando a escuridão, e parecia que havia fogo em sua cabeça; vovó dizia, era a tal mula sem cabeça, hoje Maya sabe que era lenda, mas na época menina de seus sete anos, olhava amendrontada para a parte escura da fazenda e tinha medo. Havia um senhor, que trabalhava ali para seu pai e dizia que lá pelos descampados perto do riacho ouvia-se um uivo medonho, e que tinha um lobisomem no local, para não dar bobeira a noite por ali. Coisas que contavam sempre para assustar a criançada peralta e também uma forma de passar as narrativas para o futuro. Não sabiam eles, que o futuro desmitificaria quase tudo. 

Maya ouvia sua mãe sempre a recomendar, crianças tomem cuidado, não fiquem a noite longe da casa, é perigoso. Como era bom aqueles tempos, vovô e vovò ali sentados, conversando amenidade, mamãe e o papai fazendo as tarefas e depois quando o pai pegava uma sanfona, ficava animado o local. Ele tocava e a mãe ajeitava algumas comidas para a criançada. Bons tempos! Saudades de todos que se foram, os avós, quase no mesmo ano, depois de vinte anos a mãe e recentemente o pai, isso é muito marcante.

Maya estava voltando para dentro da casa quando ouviu a voz de sua filha, Beatriz, perguntar: Mãe você viu minha caneta que brilha no escuro? Maya, deu risinho disciplicente, pois a menina lembrava ela quando pequena perdia algo e sua mãe respondia,  acho que o saci escondeu seu brinquedo. Relembrou com nostalgia. Pegou a filha no colo e foi até o armário da cozinha onde estava a caneta que, aparentemente, tinha sumido.








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