Deserto & Mar





 Sou deserto nessa temporal vida

 Inconstante, quente, selvagem,

 solitária, nostálgica e árida.

 Ah! Quisera ser Mar!

 E com sua capacidade se agigantar, 

 criando ondas, quando furioso está.

 Ah! Quisera ser Mar!

 E no seu azul profundo, mergulhar...

 Contemplaria os belos corais 

 em toda sua vastidão oceânica.

 E me aprofundaria mais, mais e mais...

 Ah! Quisera ser mar!

 E no sal das suas águas me batizar

 e, assim, exorcizar essa sensação solitária,

 que me atinge nas arenosas noites dos sem fim.

 Sou eu Deserto, tu és Mar.

 Quisera eu me afogar num turbilhão de palavras,

 que vem de ti quando próximo de mim, deságuas.

 Quando abalados, tu és maremoto e ciclone tropical

 que atormenta e destrói vilarejos e sonhos.

 Eu, em revolta, provoco  tempestades de areia,

  desorientando os caminhos, cegando os beduínos.

 Enquanto tu, incontrolável, nas pedras, suas ondas rebenta.

 Eu, na minha hostilidade, me torno  mais sedenta.

 Ambos somos gigantes, eu Deserto e você, Mar!

 Mas eu ainda queria ser mar... para que as finas areias,

 que recobrem meu relevo, pudessem em seu leito,

 delicadamente, se acomodar e minha sede saciar.

 

 



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