Lembranças de infância

Ontem mesmo estive a recordar de lembranças minhas, de um passado já distante. E, uma coisa, que já é constatada pelos estudiosos do assunto, quanto mais marcante a emoção naquele momento, as chances de a imagem se apagar da memória é mais remota. Digo isso, por que lembrei de um fato onde estava minha mãe, eu e  meu irmão, que é caçula, num ônibus, e quando ao descer do veículo, minha mãe com o meu irmão no colo, que devia ter 1 ano ou um pouco mais, e eu com meus 4 anos, presumo eu (recorrendo a imagem e aos dados cronológicos), desceu minha mãe e eu quando ia descer o motorista fechou a porta e pôs o veículo em movimento, o que para uma criança é muito desesperador, pois vi minha mãe gritando para o motorista parar, e lembro de pessoas dentro fazendo menção de se levantar e eu na porta a chorar, porque estava sendo separada da família, e isto para uma criança é muito conflituoso, ela não tem capacidade de lidar com esses fatos e emoções advindas. Por fim, desci e aos meus me reuni.

 

Houve outro episódio em que eu  e meu irmão,  - registre-se aqui, que éramos pequenos e naquela época, uma criança de 5 ou 6 anos, não tinha essa “esperteza” das crianças desses tempos cibernéticos-, então eu com essa idade 6 anos e meu irmão com 3, peguei-o, escondido, de minha mãe, e enquanto ela lavava louça ou roupa, num tanque do lado de fora da casa, naquela época, morávamos numa casa, sem pia no interior da cozinha, então dei a volta por detrás da casa, e saí segurando a mão dele, e fomos comprar balas numa “venda”, era como se chamava um antigo armazém na localidade, e assim, fomos escondidos, pois eu tinha pego umas moedinhas em cima da prateleira, e lá chegando, o dono, reconheceu a gente, e fez perguntas s obre minha mãe, peguei rapidamente as balas, paguei e puxei meu irmão pela mão dizendo ao dono da venda que minha estava ocupada em casa, e saímos correndo na rua, depois desembalamos as balas, dei para ele, e voltamos para casa, que era afastada do comércio, por onde se chegava através de uma estrada de terra. Antes, porém, no caminho encontramos mais gente que conhecia meus pais, e na pressa de não sermos pegos fora de casa, desembalei a correr, e puxando meu irmão pela mão, visto que para ele com 3 anos, acho que quase nada entendia. Chegando em casa, ofegantes, nos escondemos de nossa mãe para chupar as balas, antes de entrar para tomar banho, mas eu estava amedrontada, achando que alguém já tinha vindo ali falar com minha mãe, mas ainda bem que não, pois antes de entrar em casa, estava temerosa de levar uma surra, o que não aconteceu, pois nunca soube, mas a lembrança de algo que impinge me medo e apreensão sempre fica registrada.

São tantas lembranças assim, e tenho mais, quando sai da escola em horário de aula, porque não gostava da professora substituta, e fui para casa, por um aminho alternativo, e que coisa...encontrei uma vizinha de casa, que chegou antes de mim, lá e já dedurou para minha mãe que eu estava na rua, e de fato estava, e ainda perdida, pois fui por um caminho que não conhecia, olhava as casas e as pessoas e me apavorava não conseguir chegar em casa. Eu com maleta de escola na mão, e andando sem certeza de como chegaria em casa, até que por Deus, cheguei, e fui já recebida com uma confrontação de onde eu estava, sendo que ela tinha me deixado na escola, e falei que estava lá, e saímos mais cedo, claro uma mentira deslavada, mas eu naquela época, com 8 anos nem sabia como construir uma mentira, e minha mãe falou da vizinha que me viu, e ela disse que iria perguntar no dia seguinte na escola. Perguntou mesmo, e como a professora tinha faltado, era uma substituta, e a efetiva não sabia o que tinha ocorrido, ficou uma questão a ser esclarecer, o que não esclareceu de fato, pois o assunto morreu ali. 

Tudo isso para falar que as lembranças que nos trazem as imagens onde passamos medo, apreensão, dor, sensação de desamparo, são muito significativas e marcantes, e eu puxando uma, lembrei de outra, e as boas lembranças também vieram, mas não sem mais esforço, porque sabemos que as emoções que registram cenas de alegria e felicidade, ficam obscurecidas pelas emoções negativas que vem à tona com mais frequência.