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O sapo de papo amarelo ( Quase um conto de amor)



Era uma vez...não, era uma vez é para contos de fadas, e este não é um conto de fadas, e sim apenas um conto e mais nada.

Vivia lá pelo brejo um sapo feio e de papo amarelo. Ouvia-se seus ruídos costumeiros, a noite coaxava e vivia a pular na água lamacenta do brejo. Claro, tinha tantos outros sapos, mas este era um sapo bem singular, pois os outros não tinham o papo amarelo como ele, o que o tornava singular.

Lugar sem muito atrativo, o brejo era pouco frequentado, apenas alguns caçadores noturnos se aventuravam por ali, e durante o dia, poucos gostavam de circundar o local para acessar outras propriedades, ao longo da estrada, já que era um lugar sujo e sem graça. Como para toda regra tem exceção, vinha de mãos dadas um jovem casal, que era a tal exceção. Que coisa mais estranha, passear pelos campos, entre atalhos pelo brejo!?

Vinham conversando e ouvia-se risos soltos, um jovem casal de namorados ou pelo menos intencionados a isto, caminhavam com cuidado, para não caírem na lama, tentando assim, chegar do outro lado , sem acessar a estarda principal.

A moça, era Melinda. Garota nascida na cidade e que vinha passar as férias, feriados prolongados, na fazenda do avô. Melinda, tinha esse nome porque quando nasceu, era uma belezura, como dizi seu pai., que encantado, escolheu o nome da guria. E assim ficou, quando era menina linda; depois de moça, mais ainda; com seus cabelos castanhos cor de avelã, olhos grandes e cor de mel. Pele sedosa e rosada, um corpo de causar inveja a muitas misses, então o nome perfeitamente lhe cabia.

Seu acompanhante e aspirante a namorado ,era Horácio. Um rapaz, também bem nascido, mas que sempre morou na fazendo ali do lado. Rapaz, bem apessoado, no alto de seus 1, 76 , com seus cabelos negros e bem cortados, olhos matreiros, rosto de garoto, bem intencionado.

Os dois vinham se enroscando um no outro e tentando se equilibrar para não enfia ro pé na lama, que tinha pelo caminho. Horácio , com seu jeito galante e cordial, ajudava Melinda, ora apoiando o corpo dela contro o seu, para dar segurança nas passadas, ora sendo cavalheiro e lhe dando a mão com carinho.

Melinda andou mais um pouco em volta do brejo, e viu que já estavam quase lá, faltava pouco para chegar na cerca e atravessar para o outro lado. Foi quando ela de relance viu a flor que nascera na borda da lama. Ficou observando e falou para Horácio:



- Olha! Veja só, um lugar tão feio e lamacento e aquela flor que linda!


Horácio olhou e viu que era apenas uma flor singela, nada  demais,.


- Horácio! Horácio! Pare um pouco, pega pra mim aquela flor. - Falou Melinda, com entonação


_ Pra quê? Tem tantas onde vamos. Pega outra lá. Ali está quase no meio do lamaçal – Retrucou Horácio

- Ah! Vai que custa...você disse que faria tudo para me deixar contente e eu quero a flor. Pega.


_ Hummmmmm – Bufou Horácio


- Ah! Vai pega que te dou um beijo bem gostoso. Vai pega. Tô pedindo – Fez-se até beicinho


Horácio não resistia aquele charme de Melinda, já a conhecia de longa data, e se não fosse pegar a tal 
flor ela iria cismar o caminho todo.


- Tá bem, tá bem…. - O que nós homens não fazemos pelas mulheres, ainda mais lindas – 

Pensou Horácio

Lá foi nosso intrépido aventureiro retirar a flor do local e dá la a sua garota.


Pula daqui, vai dali, e tenta chegar mais perto,mas não tão perto para não se sujar, e estica o braço para apanhar a flor lilás com tons alaranjados, que nascera fortuitamente naquele lugar.


Enquanto isto, Melinda fica a observar e se depara com a figura feia e velhaca do sapo de papo amarelo.


- Ai! Que coisinha feia – Fez cara de repulsa

- O que foi? Indagou Horácio do outro lado enquanto se esticava no intuito de ser galante.


- Um sapo feio e enrugado. Nossa ele tem um papo amarelo. Nunca vi assim


- Tem vários por aí, Melinda. Estamos na beira de um brejo, você bem sabe


Melinda ficou olhando o batráquio, que correspondia ao seu olhar. Ela abaixou e fez um movimento de tocar o sapo, este nem se moveu.


- Hummmm… gosta disso, hein. - Riu, Melinda


Tocou no sapo e alisou, ele quieto ficou.


Danadinho pensou ela, lembrando dos contos de fada.


Resolveu fazer troça com aquilo.


- E se eu te pegar e der um beijinho? Hummm? Riu como sendo engraçada.



- O quê? Tô quase pegando a flor,mais um pouco e…ufa! Peguei. - Falou Horácio



Melinda pega o sapo enrugado e acaricia ele, e aproxima a boca de sua pele, para dar um beijoca, nisso leva um susto.


- Ai! Aiiiiiiiii…. Seu bicho horroroso – jogou o sapo no chão



_Aqui está, a flor, aqui está. - O que houve? Sua pele está vermelha.


Melinda ficou irritada e apontou o dedo para o sapo ali jogado perto, que pulava, apenas enchia o papo amarelo, e observava.

-Aquele bicho nojento. Eu peguei ele e ele me mordeu. Desgraçado

Horácio pegou um pedaço de pau, e com auxílio  deste jogou sapo no meio do lamaçal, e dele nada mais se via, depois de cair.

- Pronto! Pronto! Deixa eu ver. Viu a pele dela vermelha, mas não tinha sangue ou ferida, apenas vermelhadão na bochecha. Horácio alisou os cabelos dela, e lhe acalmou.


- Fica calma, querida. Só abocanhou e não te feriu. Vai passar. - Beijou-lhe o outro lado do rosto, e acariciou seu cabelos, a aconchegou, afinal para que mesmo serve o amor, senão para apaziguar e acalmar o ser amado.


- Ah! Pegue , a flor. Aqui está.

Melinda se alegrou..e tomou posse da flor exótica.

- Obrigada. Sorriu e o beijou ternamente.


Um beijo singelo, doce e romântico


Depois do momento de carinhos , Horácio disse;


- Vamos? Estamos quase perto. Vamos – Indicou Horácio



Depois disto, voltaram juntos para a casa dele e outros dias e feriados mais, sempre se encontravam e passeavam, mas nunca  se casaram, um com o outro.


Por fim, Melinda foi morar em Madrid, escolheu a carreira de fotógrafa, e tinha um vasto campo de atuação na Espanha.

Horácio herdou as terras dos pais e montou um grande frigorífico, sendo responsável grande parte das exportações de carne para o exterior.

A fazenda não existe mais, foi vendida e transformou-se num campo de produção de energia eólica e solar, com subestações para estudos e implementos dos recurso na região

O brejo foi aterrado com o tempo e com terra mesmo

Do sapo, coitado, apenas um mero batráquio que entrou nesse conto por acaso, ou não, precisava de um titulo e o sapo vei bem a calhar.






Poderia eu finalizar este conto insólito em forma de poesia

Assim:




Das terras das vinhas

Havia uma menina linda

Seu nome era Melinda


Quando nasceu, encantou

Cresceu a linda menina

Se tornou uma jovem linda

Adulta, continuava linda



Seu parceiro de infância

Horácio, menino bom

Os pais nutriam esperanças

O casório seria de bom tom


Passeios e conversas ao pé do ouvido

Risadas, carinhos, caricias,

Tudo empolgava os pombinhos

Estavam sempre juntinhos



Melinda, mulher atraente e versátil

Horácio, homem inteligente e arrojado

Ambos seguiram caminhos distintos

Incompatibilidade de agenda ou do destino?




Melinda se casou duas vezes.e nunca com Horácio

Horácio divorciado uma vez, agora solteirão cobiçado

Ambos nem se falam mais, falta interesse deles



A fazenda foi vendida e modificada

Hoje é pólo turístico com energia renovada

O brejo ficou todo aterrado. Coisa do passado


Da flor exótica nada se sabe

Se é que de fato existiu tal flor no lamaçal

Ou foi apenas foi capricho uma moça linda

Querendo abusar do seu galã



Já o tal sapo de papo amarelo

Coitado dele. Entrou na estória de bicão

Pois Melinda já tinha seu príncipe e seu castelo

E nem isto a segurou lá naquele rincão













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