O próximo

 


Quando estamos numa fila ou aguardando um atendimento ser o próximo nos alivia da espera e, claro, depositamos nossas expectativas na pessoa à nossa frente, seja ele um funcionário público, um caixa de banco ou um médico, para darmos uma resolução a algo pendente. Somos o próximo, então agora resolvemos! E quando invertemos a situação, jogamos para o um tempo abstrato e indeterminado a próxima atitude. No próximo mês vou melhorar minhas notas no curso; no próximo verão vou para uma ilha paradisíaca; com o próximo namorado serei mais branda; no próximo emprego conseguirei melhorar minha performance atual e assim vai, tudo lá para o próximo, que pode não ser tão longínquo assim, ou pode nos surpreender com outras variantes que vem à galope.


Lembro de quando era menina, quando eu e meu irmão fazíamos traquinagens, sempre vinha a repreensão dos pais, como aquela ameaça, na próxima vez que fizeres isto, levarás uma surra. Pronto! O próximo ali sempre adquiria um caráter temeroso. Tinha lá o lado bom também, não ganhava um brinquedo no Natal, mamãe tentando aliviar a frustração das crianças, vinha com a máxima: No próximo Natal você ganha, e com isto, ela simploriamente, acreditava que nos blindava da dor, e nós preenchíamos a lacuna com doces esperanças.

Hoje, com a tecnologia, o próximo deixou de ser nomeado em muitos lugares, agora tornou-se uma senha numérica, onde na expectativa ficamos de olhos grudados no painel, aguardando sermos o próximo. No saguão do Aeroporto espero um voo de um familiar que estava fora do país, no letreiro, sei que vou esperar, pois o voo de terras andinas sofreu atraso, então aproveito e vou ler o próximo capítulo do livro que estou adiando. Quem sabe até a próxima chamada sonora eu consiga terminar, o que vinha adiando.













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